A ideia de que informação pode superar em valor o que se extrai do subsolo ganha força conforme empresas estatais de tecnologia se destacam por gerar influência, controle e inovação. Serpro aparece como símbolo dessa transformação ao concentrar volumes enormes de dados públicos e construir capacidade técnica para analisá‑los de modo estratégico. Políticos e agentes públicos têm observado como inteligência artificial pode potencializar o uso desses dados para tomadas de decisão mais rápidas, oferecer serviços públicos mais eficientes e até reduzir custos operacionais. A comparação entre patrimônio mineral e riqueza invisível mostra que vantagem competitiva pode estar em quem administra dados com clareza e ética.
Num cenário político em que privacidade, regulação e soberania de dados são preocupações crescentes, o debate sobre inteligência artificial se insere como instrumento de controle e progresso. Quando instituições do Estado estabelecem marcos legais claros, regulamentos robustos para uso de dados pessoais, políticas de segurança cibernética e transparência, elas garantem que esse novo ativo estratégico seja usado em benefício coletivo e não apenas restrito a elites tecnológicas. Políticas legislativas sobre governança de dados, inclusão digital e investimentos em infraestrutura digital são peças-chave de uma agenda que entende que competência tecnológica impacta diretamente poder político.
É importante destacar que capacidade técnica isoladamente não basta: estrutura de governança, competências internas, recursos humanos capacitados, cultura de dados aberta ao controle social fazem diferença real. Instituições como Serpro, integradas ao Estado, têm papel estratégico quando conseguem se manter autônomas, profissionais, com boas práticas de auditoria, interoperabilidade e protocolos de segurança. Esse tipo de ativo invisível, concentrado em bits e algoritmos, cresce em valor quanto mais confiável, útil e integrado ao serviço público for.
Em comparação com empresas que exploram petróleo, o setor de tecnologia de dados exige menos extrativismo físico mas mais cuidado em regulamentação de direitos fundamentais. O petróleo exige perfuração, logística complexa, transporte de matéria‑prima pesada, refino, impacto ambiental visível. Já dados dependem de redes digitais, servidores, políticas de privacidade, consentimento e proteção contra abusos. Quando administrador público assume liderança nessa frente, ele age antecipando riscos reputacionais, judiciais, diplomáticos, além de econômicos.
Sob olhar político, gerir essa nova riqueza invisível se torna disputa de poder, influência, investimento e legitimidade. Quem controla infraestrutura digital estratégica, quem define regras de interoperabilidade, quem acessa dados sensíveis, quem lidera projetos de inteligência artificial aplicada nos setores públicos tem poder real. Governos que não se adaptarem podem ficar à margem de avanços, seja no fornecimento de serviços humanos como saúde, educação, segurança, ou na competitividade de seus setores produtivos no mercado global.
Outro elemento crítico é alocar recursos adequados para inovação contínua. A tecnologia evolui rápido, inteligência artificial avança, modelos e algoritmos se sofisticam, ameaças cibernéticas se multiplicam. Se não houver atualização de hardware, software, política pública de cibersegurança, capacidade de absorver novas tecnologias, há risco de obsolescência ou de perda de controle. Além disso investimento em pesquisa, parcerias com universidades e estímulo ao ecossistema tecnológico local fortalecem soberania.
Sociedade civil, imprensa e academia têm papel de fiscalização, de exigir clareza no uso dos dados, de verificação de como modelos de inteligência artificial são feitos, de quais vieses carregam, de quem se beneficia. Transparência, auditoria independente, participação democrática no desenho das políticas de dados e ética tecnológica são contrapesos essenciais para evitar que uso mal regulado gere desigualdade, discriminação ou concentração de poder indevida.
Em resumo, Dados e inteligência artificial quando informação vira poder maior que petróleo mostra que transformação digital, políticas públicas bem desenhadas, investimento técnico e controle democrático juntos podem redefinir quem detém efetivamente poder em sociedade. A disputa não se dá mais apenas por recursos naturais mas por quem trata melhor informações, segurança, uso ético, integração com demandas sociais. Reconhecer esse movimento pode significar diferença entre atraso ou liderança no novo ciclo tecnológico.
Autor: Natimoura Dalamyr