Desde o início do conflito entre Irã e Israel em meados de junho, o mercado global observava com apreensão o comportamento dos preços do petróleo. Tradicionalmente, tensões no Oriente Médio levam à alta da commodity, dado o papel estratégico da região na produção e exportação mundial. No entanto, ao contrário do que se esperava, o preço do petróleo tem mostrado queda acentuada, surpreendendo analistas e investidores. Este fenômeno desafia os padrões históricos e levanta questionamentos sobre as dinâmicas atuais que influenciam o setor petrolífero em meio a conflitos internacionais.
O conflito entre Irã e Israel se intensificou após ataques israelenses ao programa nuclear iraniano, aumentando o receio de interrupções no fluxo de petróleo, especialmente pelo Estreito de Ormuz, rota crucial para cerca de um terço do petróleo produzido na Ásia Ocidental. O Irã, um dos principais membros da Opep e terceiro maior produtor da organização, tem influência significativa na oferta global, e seu principal comprador é a China. Assim, qualquer ameaça à estabilidade regional costuma impactar diretamente o preço do barril no mercado internacional.
Porém, ao contrário de outras crises, como a Guerra da Ucrânia, onde o preço do petróleo disparou mais de 20% nos primeiros 14 dias de conflito, o mercado atualmente sinaliza um movimento oposto. A cotação do barril, que chegou a recuar até 7% em alguns dias, reflete uma nova realidade. Especialistas apontam que o excesso de oferta, aliado a uma menor percepção de risco na continuidade do conflito, tem pressionado para baixo os preços, quebrando o ciclo tradicional de alta em momentos de tensão geopolítica.
Um fator importante para entender essa queda é a produção acima do normal em países da Ásia Ocidental, como Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Iraque e o próprio Irã. Mesmo com as hostilidades, esses países mantêm níveis elevados de extração, resultando em uma oferta abundante de petróleo no mercado mundial. Essa “inundação” de petróleo, combinada com o cessar-fogo recente entre Irã e Israel, reduz o medo de desabastecimento e, consequentemente, derruba os preços da commodity.
Analistas do setor, como Vitor Sousa da Genial Investimentos, ressaltam que o mercado precificou um prêmio de risco no início do conflito devido à possibilidade de interrupções na oferta, danos à infraestrutura petrolífera ou fechamento do Estreito de Ormuz. No entanto, com a não materialização desses riscos, os investidores começaram a desfazer essas posições, contribuindo para o declínio dos preços. Essa dinâmica mostra a importância do equilíbrio entre oferta e demanda em determinar o valor do petróleo, mais do que o próprio conflito em si.
Diferente da Guerra da Ucrânia, o mercado não espera que o conflito entre Irã e Israel se prolongue de forma intensa ou gere impactos severos na cadeia de abastecimento do petróleo. O fechamento do Estreito de Ormuz, por exemplo, é considerado praticamente inviável, já que traria consequências devastadoras para exportadores e importadores da região. Essa perspectiva reduz a ansiedade dos agentes econômicos, que tendem a reagir menos abruptamente às notícias do conflito.
Além disso, o preço do petróleo já vinha sofrendo pressão desde abril devido à guerra comercial entre Estados Unidos e China, que afetou a demanda global. O agravamento recente com o conflito no Oriente Médio intensificou momentaneamente os preços, mas a combinação de fatores como a rápida estabilização do conflito e a alta produção fez com que os preços voltassem a cair. Assim, o cenário atual reflete uma maior resiliência do mercado de petróleo frente a conflitos localizados.
Em suma, a queda do preço do petróleo durante o conflito entre Irã e Israel é resultado de um conjunto complexo de fatores que envolvem oferta elevada, expectativas de curto prazo para o conflito, e contextos econômicos globais. O mercado demonstra que a geopolítica, embora continue sendo um elemento relevante, não é mais o único motor dos preços da commodity. O equilíbrio entre oferta e demanda, junto à precificação dos riscos reais, tem prevalecido, tornando o comportamento atual do petróleo um caso atípico para análises futuras.
Autor: Natimoura Dalamyr